Lula toma posse como 39º presidente da República e publica as suas primeiras medidas

03 de janeiro de 2023

Luiz Inácio Lula da Silva tomou posse no último domingo (1º) como o 39º presidente da história do país para um terceiro mandato, após 12 anos ter deixado o cargo.

Lula foi oficialmente empossado no Congresso Nacional, em cerimônia diante de parlamentares e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Geraldo Alckmin também tomou posse como vice-presidente.

Em seu discurso no Congresso Nacional, após ser empossado, o presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a democracia, agradeceu o apoio que garantiu a aprovação da emenda constitucional da transição e prometeu revogar os decretos que facilitaram o acesso às armas. O novo presidente também prometeu retomar a política de valorização do salário mínimo, fortalecer a indústria, incentivar a pesquisa e combater o desmatamento na Amazônia.

Durante a assinatura do termo, Lula fez uma homenagem a Wellington Dias, ex-governador do Piauí, e a população do Estado. Ele relembrou que foi presentado por Dias com uma caneta durante as eleições de 1989. Ele perdeu a corrida presidencial e as duas seguintes. Quando eleito em 2002, ele esqueceu a caneta. Na eleição de 2006, ele também havia a perdido. Contudo, em seu terceiro mandato, ele fez questão de utilizar a caneta presenteada, homenageando também sua trajetória política. Alckmin também utilizou a mesma caneta para realizar a assinatura.

Com Bolsonaro ausente, Lula recebeu no Palácio do Planalto a faixa presidencial de pessoas comuns, representantes do povo brasileiro, uma criança, um indígena, um negro, uma mulher, um operário e uma pessoa deficiente. Foi a primeira vez desde 1985 que um novo presidente não recebe a faixa do seu antecessor. À época, o último presidente da ditadura, João Baptista Figueiredo, também deixou o Planalto sem participar da cerimônia de entrega da faixa ao primeiro presidente civil em 21 anos.

A próxima etapa no dia de Lula foi, dentro do Palácio do Planalto, que recebeu cumprimentos de líderes estrangeiros. Entre eles, estavam 17 chefes de Estado. rei da Espanha e os presidentes da Alemanha, Angola, Argentina, Bolívia, Cabo Verde, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Guiné Bissau, Honduras, Paraguai, Peru, Portugal, Suriname, Timor Leste, Togo e Uruguai. Os vice-presidentes da China, de Cuba, de El Salvador e do Panamá também compareceram.

Na sequência, Lula deu posse a seus 37 ministros indicados para compor a equipe e na segunda-feira (02/01) publicou no Diário Oficial da União (DOU) a Medida Provisória n° 1.154, de 01.01.2023, que estabelece a nova organização básica dos órgãos da Presidência da República e dos Ministérios.

Ainda no Palácio do Planalto, após ser empossado, Lula assinou os primeiros atos administrativos de seu mandato, denominado como “revogaço” que passam a vigorar de maneira imediata no país. Foram 13 despachos, entre decretos, atos normativos e medidas provisórias, que versam sobre os sigilos de 100 anos adotados pelo ex-presidente Bolsonaro (PL), assim como o novo valor do programada de distribuição de renda, que voltará a se chamar Bolsa Família, preservação ambiental, entre outras.

Vejamos a seguir o que muda com cada um dos atos assinados.

Medida Provisória que Modifica a Estrutura do Governo e os Ministérios

O governo Lula contará com 37 pastas ministeriais, sendo 30 ministérios propriamente dito – incluindo os recriados Cultura, Esportes, Mulheres e Igualdade Racial -, três secretarias – Comunicação Social, Geral e Institucional – e outros quatro órgãos equivalentes a ministérios – AGU, Casa Civil, CGU e Segurança Institucional. O governo do ex-presidente Bolsonaro era formado por 23 pastas.

Medida Provisória que garante R$ 600 de Bolsa Família

O programa de distribuição de renda, que passou a se chamar Auxílio Brasil sob a gestão anterior, voltará a ser denominado Bolsa Família e pagará mensalmente aos beneficiários R$ 600. Será acrescentando a quantia R$ 150 por criança de até 6 anos de idade. O orçamento previsto por Bolsonaro para o ano de 2023 previa o pagamento mensal de R$ 400. A mudança foi viabilizada pela chamada PEC da Transição, aprovada pelo Congresso Nacional, que permitiu ao novo governo ampliar o teto de gastos para investimento em ações essenciais.

Medida Provisória que Prorroga a Desoneração dos Combustíveis no Brasil

O novo governo decidiu manter a política que garante a isenção da cobrança de impostos federais sobre a gasolina, diesel, gás liquefeito de petróleo (GLP) — o gás de cozinha — e outros combustíveis (PIS/Cofins e Cide). No caso das alíquotas da gasolina e do álcool, a desoneração foi prorrogada até 28 de fevereiro. Para o óleo diesel, o biodiesel e o GLP, a medida seguirá valendo até 31 de dezembro de 2023.

Decreto que Reestrutura a Política de Controle de Armas no País

O decreto inicia um processo de reestruturação da política do controle de armas no Brasil. De imediato, o decreto proíbe que CACs (caçadores, colecionadores e atiradores esportivos) transportem armas municiadas, além de suspender a concessão de novas licenças para clubes de tiro e de novas licenças para CACs. O decreto também condiciona a autorização do porte de arma à comprovação de necessidade e o recadastramento dos que já o possuem no Sistema Nacional de Armas (Sinarm). Também proíbe a prática de tiro desportivo para menores de 18 anos e reduz de 6 para 3 a quantidade de arma para cidadãos comuns. Em 60 dias, o novo governo também deverá apresentar uma proposta de nova regulamentação do Estatuto do Desarmamento.

Decretos que Restabelecem Ações de Preservação da Amazônia

O novo presidente assinou três normativas voltadas à preservação da floresta Amazônia. A primeira restabelece as ações de combate ao desmatamento. A segunda restabelece o Fundo Amazônia e viabiliza R$ 3 bilhões de doações internacionais para combater crimes ambientais. Já a terceira revoga o decreto 10.966, de 11 de fevereiro de 2022, que previa ações de desenvolvimento da mineração e garimpo em áreas indígenas e de proteção ambiental.

Revogação do Decreto que Extingue a Segregação na Educação Básica

Lula revogou o decreto 10.502, de 30 de setembro de 2020, que, na prática, dificultava a matrícula de crianças com deficiências em escolas de ensino regular. O projeto do governo Bolsonaro estimulava a matrícula de alunos especiais exclusivamente em escolas especiais.

Revogação do Decreto que Impedia a Participação Social na Construção de Políticas Públicas

Lula revogou o decreto 9.759, de 11 de abriu de 2019, que, na prática, dificultava a participação da sociedade civil na construção de políticas públicas. À época de sua publicação, o decreto finalizava a atuação de alguns comitês, comissões e fóruns, criados para permitir a presença da sociedade organizada nas decisões federais. A medida previa extinção de órgãos como o Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoção dos Direitos LGBT (CNDC/LGBT), a Comissão Nacional de Política Indigenista (CNPI), o Conselho Nacional de Segurança Pública (Conasp), o Conselho Nacional de Direitos do Idoso (CNDI), o Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Conade), o Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (Conad), entre outros.

Reavaliação dos Sigilos de 100 Anos sobre Documentos Públicos

Despacho assinado por Lula determina que a Controladoria-Geral da União (CGU) reavalie, em até 30 dias, decisões do ex-presidente Bolsonaro que impuseram sigilo sobre documentos e informações da Administração Pública. Dentre os documentos os quais o antigo governo determinou sigilo de 100 anos estão o cartão de vacina de Bolsonaro, cachê pago ao cantor Gusttavo Lima por campanha, gasto em viagem de férias da família nuclear do então presidente, entre outros.

Retira Empresas Públicas de Programa de Privatização

Despacho determina a retirada de empresas públicas como Petrobras, Correios e EBC do programa de privatizações em curso pelo governo Bolsonaro.

Regulamentação do Conama

Lula também assinou despacho que determina ao Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas que proponha, em 45 dias, nova regulamentação para o Conama. A ideia é uma forma de atualizar e adequar ao novo momento climático as ações do Conselho Nacional do Meio Ambiente.

Ação Pró-Catadores de Materiais Recicláveis

Determinou a elaboração da proposta de recriação da política Pró-Catadores. A medida tem como objetivo apoiar e fomentar a organização produtiva dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis, melhorar as condições de trabalho, ampliar as oportunidades de inclusão social e econômica e expandir a coleta seletiva de resíduos sólidos, a reutilização e a reciclagem.

AGF Advice Consultoria Legislativa, Tributária e Empresaria

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