Indicação ao STF: cenário político e efeitos na composição da Corte

23 de outubro de 2025

O ministro Luís Roberto Barroso anunciou sua saída antecipada do Supremo Tribunal Federal (STF) aos 67 anos, encerrando um ciclo de 11 anos na Corte. Embora ainda não tenha atingido a idade limite de aposentadoria, Barroso decidiu deixar o tribunal, abrindo uma nova vaga no Supremo. Sua última sessão ocorreu em meados de outubro de 2025, marcando o fim de uma trajetória reconhecida por decisões de grande impacto político e institucional.

Esta será a terceira indicação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao STF em seu atual mandato. Antes, ele já nomeou Cristiano Zanin, em 2023, e Flávio Dino, em 2024. Com a nova escolha, Lula passará a ter indicado três dos onze integrantes da Corte, o que representa quase um terço de sua composição. A ampliação do número de ministros indicados pelo atual governo tende a influenciar o equilíbrio interno do tribunal e pode ter impacto nas futuras decisões de maior relevância constitucional e política.

De acordo com a Constituição Federal, os ministros do Supremo Tribunal Federal são indicados pelo presidente da República e precisam ser aprovados pelo Senado Federal, após sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). O cargo é vitalício, com aposentadoria compulsória aos 75 anos. Para ocupar a função, é necessário que o indicado tenha entre 35 e 65 anos de idade, notável saber jurídico e reputação ilibada.

Principais cotados para a vaga de Barroso no STF:

Jorge Messias (AGU) – 45 anos

  • Cargo atual: Advogado-Geral da União (desde 2023). Procurador da Fazenda Nacional desde 2007.
  • Trajetória: Ex-subchefe para Assuntos Jurídicos da Casa Civil no governo Dilma; passagens pelo Banco Central, BNDES, MEC e MCTI. Ganhou projeção nacional no episódio do “Bessias”, em 2016.
  • Vínculo político: Nome de altíssima confiança de Lula.
  • Leitura estratégica: Perfil técnico com forte alinhamento ao Planalto; aos 45 anos, poderia permanecer no STF até 2055.

Bruno Dantas (TCU) – 47 anos
Cargo atual: Ministro do Tribunal de Contas da União (desde 2014), tendo presidido a Corte entre 2022 e 2024.

  • Trajetória: Ex-consultor legislativo e consultor-geral do Senado Federal; também integrou o CNMP e o CNJ por indicação do Congresso. Doutor em Direito, com experiência em controle externo e finanças públicas.
  • Vínculo político: Forte trânsito no Senado e bom relacionamento com lideranças partidárias.
  • Leitura estratégica: Perfil técnico e institucional, capaz de reforçar o diálogo entre Judiciário e Legislativo.

Rodrigo Pacheco (PSD-MG) – 48 anos

  • Cargo atual: Senador; foi presidente do Senado Federal e da Comissão de Constituição e Justiça.
  • Trajetória: Advogado, com carreira política marcada pela mediação entre os Poderes e defesa do equilíbrio institucional.
  • Vínculo político: Uma eventual escolha seria interpretada como gesto de aproximação com o Congresso.
  • Leitura estratégica: Movimento de natureza eminentemente política; aos 48 anos, teria longa permanência na Corte.

Daniela Teixeira (STJ) – 53 anos

  • Cargo atual: Ministra do Superior Tribunal de Justiça (desde 2023), indicada por Lula a partir de lista da OAB.
  • Trajetória: Advogada desde 1996, com atuação destacada em Direito Penal e em entidades da OAB; foi vice-presidente da seccional DF e autora de pautas voltadas à igualdade de gênero na advocacia.
  • Vínculo político: Nome apoiado por grupos que defendem maior representatividade feminina nas cortes superiores.
  • Leitura estratégica: Combina perfil técnico com relevância simbólica e institucional.

A nova indicação será um termômetro das prioridades do presidente. A escolha do sucessor de Barroso deve indicar se Lula pretende privilegiar um nome que garanta maior alinhamento jurídico e político com o governo em temas sensíveis de curto prazo — funcionando como uma forma de proteção institucional — ou se buscará um perfil mais independente e de longo alcance, voltado à consolidação de sua influência política até 2026. O nome escolhido poderá, portanto, refletir o equilíbrio que o presidente busca entre estratégia jurídica e cálculo político.

Embora o processo de escolha tenha natureza política, o ideal republicano é que a indicação priorize critérios técnicos, baseados em mérito jurídico, independência e compromisso constitucional. Em um tribunal de alta relevância institucional, a predominância de indicações pautadas por afinidade política pode comprometer a percepção de neutralidade da Corte, enfraquecendo sua autoridade perante a sociedade.

A AGF Advice – Consultoria Tributária e de Relações Governamentais monitora de forma técnica e estratégica o processo de indicação do novo ministro do Supremo Tribunal Federal, analisando seus possíveis desdobramentos institucionais e políticos. O escritório monitora as movimentações no Congresso Nacional e no Executivo, avaliando o impacto da nova composição da Corte em temas de interesse dos setores produtivos e econômicos.