Tarifa de 50% dos EUA compromete cadeias produtivas e exportações brasileiras
30 de julho de 2025

Está previsto para entrar em vigor nesta sexta-feira (1º) o aumento tarifário de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos, anunciado pelo presidente americano Donald Trump. Até o momento, não há sinais de que a medida será revertida ou adiada, e autoridades norte-americanas confirmam que não haverá períodos de carência ou exceções específicas para o Brasil.
As tentativas diplomáticas lideradas pelo vice-presidente Geraldo Alckmin e outras autoridades brasileiras não têm obtido avanços concretos. Segundo o próprio presidente Lula, os esforços de interlocução têm esbarrado na resistência do governo americano, ainda que existam promessas de retomada do diálogo após o início da vigência da tarifa.
O caso brasileiro ganha contornos particularmente delicados diante de uma condicionalidade política inaceitável: Trump associou publicamente a reversão da tarifa à suspensão do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal — uma interferência direta na soberania institucional do Brasil.
A medida tarifária atinge em cheio os principais setores da pauta exportadora nacional, como petróleo, minério de ferro, aço, café, carnes, celulose, máquinas e equipamentos, colocando em risco a posição dos Estados Unidos como segundo maior destino das exportações brasileiras, atrás apenas da China.
Impacto econômico imediato e de longo prazo
Segundo estimativas da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a imposição da tarifa pode gerar, no curto prazo, uma redução de até R$ 52 bilhões nas exportações e a perda de 110 mil empregos diretos. A Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) projeta efeitos ainda mais severos no longo prazo: retração de R$ 175 bilhões no PIB, perda de 1,3 milhão de empregos, queda de R$ 24,39 bilhões na renda das famílias e de R$ 4,86 bilhões na arrecadação tributária nacional.
Em um cenário de retaliação, com o Brasil aplicando tarifa de 50% sobre produtos americanos, os danos podem se aprofundar: retração de R$ 259 bilhões no PIB, quase 2 milhões de empregos eliminados, R$ 36,18 bilhões de queda na massa salarial e R$ 7,21 bilhões em perdas de arrecadação, de acordo com a Fiemg.
Reações e estratégias do setor produtivo
Diante desse cenário adverso, empresas e entidades setoriais brasileiras vêm se mobilizando ativamente. No setor cafeeiro, por exemplo, o Cecafé está articulando com a National Coffee Association (NCA) nos EUA para pressionar o Congresso norte-americano. Na mineração, o Ibram está coordenando missões empresariais aos EUA para discutir alternativas comerciais e jurídicas com parceiros e importadores locais.
Tais iniciativas demonstram que, diante de uma ruptura comercial de grandes proporções, a articulação institucional e empresarial torna-se vital. É essencial que empresas dos setores mais afetados adotem posturas proativas e coordenadas, com ações como:
– Diversificação de mercados de exportação, com foco em acordos bilaterais e oportunidades na Ásia, Europa e América Latina;
– Revisão de rotas logísticas e contratos internacionais, para mitigar impactos de custos e redirecionar fluxos de exportação;
– Mapeamento e engajamento de stakeholders nos EUA, especialmente associações setoriais, importadores e lobbies regionais que dependem da importação de insumos brasileiros;
– Fortalecimento de estratégias de trade compliance, buscando assessoria jurídica e comercial especializada em disputas tarifárias e defesa comercial internacional.
Papel das entidades de classe e governos estaduais
As entidades de classe — como federações das indústrias, associações setoriais e conselhos profissionais — devem intensificar sua atuação institucional junto ao Congresso Nacional, Itamaraty e organismos multilaterais, como OMC e OCDE, reforçando a legitimidade do Brasil como ator comercial estável e comprometido com as regras do comércio internacional.
Governos estaduais e agências de promoção comercial (como ApexBrasil) também devem reforçar seu papel neste momento crítico, oferecendo apoio técnico, orientação regulatória e oportunidades de reconversão exportadora, sobretudo para micro, pequenas e médias empresas que enfrentam maior vulnerabilidade.
Ações estratégicas e coletivas
A imposição da tarifa de 50% pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros representa um dos mais graves desafios comerciais enfrentados pelo Brasil nas últimas décadas. O impacto imediato nas exportações e o risco sistêmico para a economia exigem uma resposta articulada, institucional e estratégica.
É imperativo que empresas, entidades setoriais e o poder público atuem em sintonia, não apenas para enfrentar os efeitos da medida, mas também para reposicionar o Brasil no comércio internacional, com ênfase em resiliência, diversificação e previsibilidade.
O momento exige visão de longo prazo, coesão institucional e agilidade estratégica, para que o país possa transformar uma crise em oportunidade de reestruturação comercial e fortalecimento da competitividade internacional.
AGF Advice Consultoria Tributária e de Relações Governamentais