Entenda como funcionaria a moeda comum entre Brasil e Argentina

31 de janeiro de 2023

Moeda SUR Brasil Argentina

Durante a visita do presidente Lula à Argentina, sua primeira viagem internacional, no encontro com o Presidente, Alberto Fernández foi retomada a discussão sobre a criação de uma moeda comum (ou comercial) com a Argentina, denominada de SUR, que serve para transações de compra e venda internacionais entre os países, servindo mais como um instrumento financeiro do que uma moeda de fato.

Na visita, Lula chegou até mesmo a defender uma moeda comum entre os Brics (Rússia, Índia, Brasil, China e África do Sul) para que o comércio exterior entre essas nações seja menos dependente do dólar americano.

O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, garantiu que a moeda não vai substituir o real nem o peso. Esse tipo de moeda não entraria em circulação, nem seria usada pela população. Serviria apenas para transações comerciais entre os dois países, assim se evitaria que as transações entre Brasil e Argentina fossem feitas em dólar comercial.

Tal proposta já havia sido levantada entre ambos países em diversas outras oportunidades, a mais recente sobre a égide do ex-ministro da economia Paulo Guedes com a criação do “Peso-real” nos mesmos modelos da moeda “SUR”.

Já a proposta de uma moeda única, de forma oficial e utilizada por ambos os países – a exemplo do Euro, já foi rechaçada pelo atual ministro da Fazenda Fernando Haddad. Tal medida precisa de décadas de maturação e um processo longo de cooperação regional e internacional que, tanto Brasil como Argentina, estão nas fases iniciais.

Uma moeda comercial pode gerar facilitação nas trocas internacionais, apesar de ficar restrita ao uso comercial de negócios internacionais entre ambos os países – excluindo-se o uso para o turismo. No entanto, sofre duras críticas de economistas de ambos países e economistas internacionais de referência como Paul Krugman, que cita que a instabilidade econômica Argentina pode levar a distorções na moeda comercial que levariam ao Brasil arcar com os custos de viabilidade da moeda.

Desde 2008 já existe um trâmite de troca entre os bancos centrais brasileiro e argentino que faz a transação entre Real e Peso Argentino, sem envolver o dólar no câmbio, chamado de Sistema de Pagamentos em Moeda Local (SML), disponibilizando em ambos os bancos centrais o valor em moeda de destino. Ou seja, empresários brasileiros e argentinos, tanto em processo de compra ou venda, já utilizam deste sistema para um câmbio facilitado e receber em suas moedas locais caso escolham por usar o SML.

Cabe então destacar que é errônea a interpretação de uso do dólar nestas operações de câmbio, apesar de divulgado a criação de uma moeda comum entre os países para fugir do uso do dólar nestas trocas, pois o dólar não está envolvido neste processo. Tanto o sistema que já existe quanto a criação de uma moeda comercial não empolgam o setor privado argentino, uma vez que a falta de dólar é sintoma e não a causa dos problemas econômicos argentinos. A dolarização da economia argentina é um reflexo dos consumidores e empresários argentinos em confiar mais na estabilidade do dólar, e no seu poder como moeda de troca e ativo internacional, do que do seu próprio peso argentino.

O cenário político argentino também não é animador, sendo tal proposta impulsionada pelo governo de Alberto Fernandez que, ao perder popularidade em razão da situação econômica do país e a alta inflação, planeja usar tal medida como portfólio de vitória política para as eleições presidenciais que se aproximam em outubro deste ano.

A proposta de criação de um Banco Central Sul-Americano, que seria responsável pela emissão da moeda, pode ser mais um impeditivo para a realização do projeto nesta gestão do presidente Fernandez, pois com as eleições em outubro, não há tempo viável para viabilizar tal estrutura, apesar de que tal banco central seria criado com contribuições de cada governo, que seriam proporcionais às suas participações no comércio regional.

Desta forma, a instabilidade política argentina e as eleições de outubro; os custos de viabilidade patrocinados pelo Brasil, aliados tanto pelo desinteresse do mercado que já pouco utiliza a SNL, quanto pelo volume de trocas internacionais entre Brasil e Argentina que decaíram nos últimos anos, são razões para traçar um cenário de não efetivação da moeda comercial.  Atualmente, o tema é usado na mídia para dar assunto de uma cooperação internacional do Mercosul que não necessita de moeda comercial comum e sim estímulos para efetivação de um mercado livre comum.

Descrição moeda SUR
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